Artista coreana-brasileira aponta semelhanças com sua capa de “Aos prantos no mercado”
por Danis Mizokami
Na última quarta-feira (01), o Prêmio Candango de Literatura anunciou os finalistas em suas categorias. Pouco depois, ilustradores apontaram que quatro livros indicados na categoria de Melhor Capa — O cão vai à missa de todos os dias; Translado sob céu enxuto; Desaparecer; e Perpetuando a Ilha de Jeju com tangerinas, todos da editora Mondru — descumpriram o regulamento do prêmio por utilização de inteligência artificial. Ing Lee, capista e ilustradora coreana-brasileira, também apontou semelhanças de uma capa sua, do livro Aos prantos no mercado (Fósforo), de Michellle Zauner, com outro livro do catálogo da editora.
Ao PublishNews (PN), a artista comentou: “A composição, forma e cores são muito similares. E, ao dar um zoom na imagem, fui reparando cada vez mais em erros grotescos, o que me faz questionar se uma editora que opta por publicar livros com capas de IA simplesmente não respeita seu público consumidor e entrega qualquer coisa porcamente feita. É grotesco.”


Segundo a artista, é comum que diretores de arte e designers mostrem outras capas como referência em briefings de novos projetos, mas o cenário atualmente é de de incerteza pelo uso de inteligência artificial generativa. “Não dá pra saber se seu trabalho foi literalmente usado para alimentar prompts e esperar bom senso de uma máquina”, afirmou ao PN.
A penalização pelo uso de inteligência artificial no Prêmio Candango está previsto no regulamento da premiação. A editora Mondru afirmou em nota oficial que “as acusações são categoricamente falsas, irresponsáveis e de natureza criminosa. A Mondru Editora e o designer Jeferson Barbosa seguiram rigorosamente todas as regras do edital do 2º Prêmio Candango de Literatura”. A premiação ainda não se pronunciou sobre as acusações.
Um coletivo de capistas, por sua vez, identificou características de que elementos das capas contêm intervenção de IA, com justaposição de estilos e texturas típicas de criações com inteligência artificial. Ing Lee deu dicas para identificar imagens com suspeita de inteligência artificial:
• Elementos com naturezas distintas interagindo em uma mesma imagem
• Mudanças bruscas de estilização
• Inconsistências que não batem com o grau de tecnismo apresentado
• Proporções irregulares e texturas imprecisas
• Presença de elementos de composição que descrevam prompts conhecidos
• Pesquisa do portfolio do artista ou ilustrador responsável
Em suas redes sociais, a artista ainda complementou que o leitor deve desconfiar em casos onde “não há nome de um ilustrador creditado ou profissional cujo portfólio não bata com o tipo de trabalho apresentado”.
Autora de capas de diversos livros como O Impulso e Amêndoas (Rocco) de Won-pyung Sohn; Coelho Maldito (Alfaguara) de Bora Chung; e Castella (Martin Claret) de Park Min-gyu, Ing Lee tem um trabalho consolidado como ilustradora, quadrinista e pesquisadora. Recentemente, ela lançou a webcomic The Demons in AI’s Data, que discute justamente a entrada da inteligência artificial em nossas vidas (clique aqui e saiba mais). A artista ainda prepara o lançamento de João Pé-de-Feijão, pela VR Editora.
Fonte: PublishNews